A nona edição do Chocolat Ilhéus, confirma o que já sabíamos; O conceito de chocolates de origem do Sul da Bahia está consolidado, resta no entanto, consolidar o modelo de negócio, ainda existe um grande hiato entre o conceito e o negocio de fato.
É inegável que o evento se tornou uma excelente oportunidade de vendas para a incipiente indústria chocolateira regional, uma das poucas por sinal, é verdade também que o avanço na qualidade e na capacidade da produção vem crescendo ano a ano, resultado de muita dedicação, pesquisa, iniciativas e parcerias, isso ficou evidente nas novas linhas de produtos, na beleza e qualidade estética das embalagens e nas definições de conceitos de marketing e narrativas inteligentes incorporadas pelas empresas.
É palpável o avanço no caminho do amadurecimento dos projetos, algumas questões, no entanto, ainda se colocam como desafios imensuráveis ou, quando mensurados, quase inalcançáveis, tamanha a distância a ser percorrida.
São elas, o aumento na escala de produção e acesso ao mercado, que podem ser entendidos no sentido inverso também.
No que se refere ao ganho de escala para produção. O gargalo encontra-se na produção de cacau de qualidade e na disponibilidade de plantas industriais, um gargalo no campo e outro na indústria.
No campo, o problema começa com a insolvência financeira da cacauicultura, gerando um consequente baixo grau de investimentos na produção e nas soluções de questões técnicas diretamente ligadas à qualidade, como mão de obra capacitada, além, é claro, da infraestrutura interna das fazendas, em sua quase totalidade com equipamentos, (barcaças, cochos, secadores, estradas, sistema elétrico e outros…), muito danificados, estes dois fatores, mão de obra e infraestrutura, são essenciais para os novos tempos do chocolate, que exige cacau fino produzido com técnicas específicas, seja nos processos de pós colheita ou na industrialização do chocolate.
Fazer cacau fino no nível que precisamos e na quantidade que permitirá um giro de escala, é um desafio imediato, se não for encarado, poderá limitar ou atrasar demasiadamente o crescimento do negócio chocolate.
Em outra direção, já fora das fazendas, temos o gargalo da industrialização do cacau para o chocolate. Com exceção das marcas que tem sua própria planta industrial, as demais, noventa por cento, dependem de sistemas terceirizados que terminam por nivelar a qualidade e aumentar os custos. Nesta área em particular existe muito desenvolvimento tecnológico a ser realizado e incorporado, considerando que caminhamos para chocolates minimalistas feitos quase que exclusivamente de dois ou três produtos, o que implica em desenvolvimento e domínios de processos de fabricação mais sofisticados e exigentes, novamente serão os processos e os equipamentos que definirão a qualidade, por consequência o sucesso do nosso negócio.
E o terceiro gargalo está na comercialização, no acesso ao mercado, na construção do marketing correto, na criação e execução da marca coletiva regional, capaz de se comunicar com o consumidor, mostrando a ele valores agregados de forma intrínseca ao nosso chocolate e cacau, como a Mata Atlântica e sua biodiversidade, em parte protegida pelo Cacau, ou o conhecimento empírico de nossos trabalhadores e dos artesãos do cacau, como João Tavares, Diego Badaró e os Magalhães da Lajedo do Ouro.
Exatamente aí que está a necessidade do desenvolvimento das parcerias, desafio que a Chocosul, Associação dos Produtores de Chocolate de Origem do Sul da Bahia, entende como fundamental para continuarmos avançando .
Os governos em particular devem ajustar seu olhar para esse setor, tamanho o potencial que apresenta, está na hora de tratarmos da estruturação de uma política pública para o cacau sob o foco do chocolate e da produção de cacau de qualidade, não cabe ao governo somente o apoio pontual a eventos ou a disponibilidade para ouvir, cabe o protagonismo em assumir a construção desta política, precisamos de respostas que venha das pesquisas, do acesso ao crédito, da promoção e do marketing.
Até aqui montamos uma rede de apoio que tem funcionado muito bem, atores que tem sido essenciais em nossa jornada, Sebrae, FIEB, UESC/CIC, Ceplac, Senai, Instituto Arapyau e outros, os próximos passos, no entanto, precisam ser coordenados em torno de uma política pública para o setor, por consequência geradora de renda, emprego, capaz de fixar o homem no campo, valorizar as propriedades e utilizar todo potencial que temos a oferecer no sentido do desenvolvimento sustentável do Sul da Bahia.
Gerson Marques