Se fizermos um exercício fotográfico comparativo das unidades de produção de cacau de meados do século XX com as deste início de século XXI, o que constataríamos? Houveram mudanças na tecnologia utilizada nas fazendas? Se sim, foram mudanças básicas, incrementais ou radicais?
A partir da década de 1990 o Brasil inaugura uma nova etapa enquanto protagonista mundial na produção de commoditties agrícolas. Esse posto corresponde ao seu sucesso enquanto produtor de conhecimento e tecnologia agrícolas em sintonia a capacidade de absorção tecnológica dos produtores. Neste mesmo período, enquanto o que atualmente são consideradas grandes culturas (soja, milho etc.) cresceram e ganharam protagonismo econômico, o cacau que até então figurava como um dos principais produtos agrícolas do país inicia seu ciclo de decrescimento.
Houve um descompasso de desenvolvimento tecnológico entre o agronegócio do cacau comparado a outros. O progresso deixou setores da agricultura para trás e provocou uma série de heterogeneidades estruturais que merecem tratamento. Enquanto alguns setores do agronegócio alcançaram o status de ”high tech ou pop” graças a tecnologia e a competitividade, outros não acompanharam esse processo, inaugurando uma estagnação do ponto de vista tecnológico.
Embora existam empreendimentos agrícolas excepcionais, a estagnação tecnológica parece ser refletida, de modo geral, na atividade cacaueira. Mas o que explicaria esse efeito estático? Não houve desenvolvimento tecnológico para as propriedades de cacau? Insisto em sinalizar que essa não seria a causa principal em vista a biotecnologia de fronteira do conhecimento disponível para cacauicultura que não foi absorvida pela maioria dos produtores. Existem, claramente, variáveis macroestruturais neste dilema que merecem tratamento como a escassez de disponibilidade de capital e de políticas públicas pró-competitivas a atividade, mas também insisto na existência de variáveis de nível micro que ajudam a explicar a estagnação tecnológica nas propriedades de cacau.
Alguns analistas ponderam que mais do que estagnação houve um retrocesso tecnológico no setor primário do agronegócio cacau. A mim parece que para compreender melhor esta problemática, seja estagnação ou retrocesso, é importante avançar em algumas questões como: a) por que alguns produtores de cacau adotam tecnologia e outros não?; b) por que alguns produtores de cacau adotam tecnologias com rapidez enquanto outros retardam a sua adoção?; c) quais fatores explicam suas decisões?; d) Quais agentes econômicos induzem o desenvolvimento de tecnologia?; e) Quais são os fatores determinantes de absorção tecnológica na agricultura do cacau?
A tecnologia representa um fator de produção e gestão imprescindível para a agricultura moderna do século XXI. Avançar nestas questões representa um aspecto fundamental para o agronegócio do cacau com viabilidade econômica a longo prazo, mais eficiente e competitivo tanto na opção estratégica de baixo custo e alta produtividade quanto na de mercados de nicho. Não basta, portanto, desenvolver tecnologia se esta não for absorvida a quem se destina, comprometendo uma série de esforços e recursos (financeiros, humanos, materiais etc.). Entender os aspectos da capacidade de absorção tecnológica dos produtores se constitui um aspecto fundamental para o desenvolvimento tecnológico do agronegócio do cacau.
Pensando nestas questões a pesquisa “Capacidade de Absorção Tecnológica no Setor Primário do Agronegócio do Cacau” conduzida no mestrado de Economia Regional e Políticas Públicas da Universidade Estadual de Santa Cruz tem como objetivo analisar a capacidade de absorção tecnológica dos produtores de cacau, refletindo sobre estas e outras questões importantes para as estratégias privadas individuais e coletivas, políticas públicas e instituições de ciência e tecnologia de apoio à agricultura do cacau. Aproveito o ensejo para convidar os produtores de cacau a participarem da pesquisa através do link https://goo.gl/forms/fWoPDrBKVDsVh3CA2. Sua participação é fundamental.
Lucas Xavier Trindade
(Administrador, produtor, mestrando em Economia Regional e Políticas Públicas)