Príncipe Charles recorre ao chocolate para combater desmatamento
(Bloomberg) – A nova campanha ambiental do príncipe Charles tem um sabor mais doce.
O herdeiro do trono britânico, famoso por divulgar sua pegada de carbono, está recorrendo ao chocolate para ajudar a proteger as florestas do planeta. Em uma reunião na quinta-feira, organizada por sua International Sustainability Unit, 12 das principais empresas de cacau e chocolate, como Mars e Cargill, se comprometeram a acabar com o desmatamento que assola a África Ocidental.
A inciativa também envolve os governos dos principais países produtores, Costa do Marfim e Gana, onde grandes quantidades de cacau são cultivadas em terras inadequadas ambientalmente, disse Richard Scobey, presidente da Fundação Mundial do Cacau, em entrevista, em Londres. O Ministério das Florestas da Costa do Marfim estima que cerca de 80 por cento das florestas do país desapareceram desde os anos 1970.
“Durante os últimos 50 anos, cerca de metade das florestas tropicais do mundo se perderam, em grande parte por causa de transgressões agrícolas”, disse Scobey. “Quatro grandes commodities foram os motores do desmatamento: soja, azeite de dendê, madeira e gado. No entanto, no caso da África Ocidental, sem dúvida o cacau foi um motor significativo.”
Commodities como cacau, café e azeite de dendê são a base das economias da África Ocidental há décadas. Como os preços do cacau superaram os de outros cultivos em vários anos até 2015, isso estimulou a produção, o que em muitos casos ocorreu às custas das florestas.
“O setor privado tem que desempenhar um papel de fundamental importância para salvar as florestas restantes, particularmente ao lidar com o desmatamento que muitas vezes, infelizmente, foi associado às redes mundiais de abastecimento de commodities”, disse o príncipe Charles, em um discurso, na quinta-feira, em Londres.
Ações concretas
A iniciativa, que terá ações concretas esboçadas antes de um anúncio final em novembro, chega em um momento em que o aumento da produção e a desaceleração da demanda levaram os preços a caírem 35 por cento em relação ao pico registrado em julho, o valor mais alto em seis anos. Se a demanda não corresponder a rendimentos melhores isso poderia colocar em risco a renda de milhões de produtores que já são pobres. As vendas mundiais de chocolate caíram 2,3 por cento no período de três meses finalizado em novembro, informou a principal processadora de cacau Barry Callebaut em janeiro, citando a empresa de análise Nielsen.
Autoridades governamentais de países consumidores como Reino Unido, Alemanha e Holanda também compareceram ao evento. Os portos holandeses são a porta de entrada para o cacau que chega à Europa e o país se comprometeu a usar apenas cacau sustentável a partir de 2025.
Empresas como Blommer Chocolate, The Hershey Co. e Barry Callebaut também se comprometeram com a iniciativa. Embora o foco esteja na Costa do Marfim e em Gana, o empenho poderia acabar incluindo outras regiões cacaueiras na África subsaariana, no Sudeste Asiático e na América Latina. Fonte: UOL